"O TÚNEL DO TEMPO"
Sou castrofóbica e como tal, tenho pavor de ficar presa. O que vou contar agora, aconteceu comigo de verdade e o farei, sem tirar e nem por.
Fui convidada pelo meu irmão para passarmos o domingo numa chácara e ele me chamou as pressas de manhã, não me dando tempo de nada, nem mesmo de fazer a minha oração diária da manhã, como faço todos os dias ao acordar, de maneira tranquila e sem pressa.Não gostaria de ter saído assim, sem ter feito a minha prática diária. Mas fomos.
É distante da casa da minha mãe, onde me encontro hoje em visita a minha família. Demorou, mas chegamos. Confesso que a princípio, estava de má vontade, pois detesto que me imponham o que quer que seja.
Chegando ao local, já fui ficando animada, pois a muito tempo eu não tinha contato com a natureza, assim tão de pertinho principalmente o verde, as plantas, as árvores e o barulho que a natureza costuma fazer, deixando uma agradável sensação de silêncio em nossos ouvidos.
Olhei discretamente o arredor e vi que tinha natureza em abundância!
Era um churrasco do pessoal do trabalho dele e só haviam professores, alguns com suas devidas famílias.
Meu irmão logo que percebeu que eu estava gostando, perguntou se eu não queria ir até a fonte que é pertinho da casa, numa decidinha bem trabalhada, feita pelos donos do lugar.
Ele me levou até lá e ficamos algum tempo olhando aquilo tudo, deslumbrados com a beleza que a muito não víamos. Ele me perguntou se eu estava gostando e eu disse que sim, que se ele quisesse poderia subir e voltar até a casa e ficar com os seus amigos, pois eu iria curtir aquilo que estava me fazendo muito bem. Fiquei sozinha com a natureza.
Lembrei-me que não tinha feito a minha oração. Já estava com sêde e desci até o poço da fonte para beber a água que jorrava forte. A água era limpinha, mas o solo era de barro e eu tive muito mêdo de escorregar, mas decidi arriscar. Desci cuidadosamente me segurando nas pedras, de calça arregaçada, para não molhá-la e me abaixei para pegar a água com a concha da minha mão, coisa que acho que nunca havia feito na minha vida. Matei a minha sêde e de novo tomei muito cuidado ao subir, me segurando nas pedras.
Sêde saciada, sentei-me num banquinho que a natureza tinha feito ali. Iniciei o meu ritual de oração e pude perceber que haviam muitas borboletas coloridas no lugar.Tinha uma amarelinha, pela qual eu logo simpatizei e resolvi atraí-la com o meu Daimoku (oração Budista).Eu a chamei e enviei Daimoku para que ela se aproximasse de mim, mas ela era tímida e ficou perto, mas não chegou logo onde eu queria. Haviam outras amarelas, alaranjadas e pretas, que parecia ser uma família muito unida e que foram se chegando e quando eu percebi, estavam, uma a uma pousando nas minhas mãos postas em oração. Eram tantas que foram pousando nas minhas pernas, nos meus braços, no meu tênis, no meu cabelo. Eu fiquei extasiada!!!! Eu chamei uma e vieram diversas.
Nem queria me mexer, pois não queria assustá-las. Elas gostaram de mim. Eu senti naquele momento que o paraíso existe e é ali.
Eu já estava cansada de ficar imóvel, mas observei o sol por entre as árvores, o canto dos pássaros, vi alguns peixinhos naquele poço de água limpinha...notei o barulho que a natureza faz e fiquei pensando no que estava me acontecendo. Parecia irreal, mas era verdade. Era verdade e era comigo. Eu que nunca dei ouvidos a natureza!!!!
Já cansada, decidi que era hora de sair dali, pois já tinha feito a minha oração e elas se hospedaram em meu corpo, inclusive a amarelinha que eu tinha convidado a princípio.
Conversei com elas, expliquei que eu tinha que subir e agradeci pela preferência. Mandei-as todas embora, mas não as espantei. Lentamente fui subindo pela estradinha e deparei com uma convidada pro churrasco que decidiu tirar uma foto em seu celular, pois ela nunca vira aquilo na vida. Eu também não.
Cheguei na casa, com as borboletas todas sobre mim e as pessoas ficaram embasbacadas, assim como eu fiquei.Porém, a carne parecia gostosa e todos se foram até a churrasqueira.
Eu decidi voltar e deixar as minhas amiguinhas lá onde elas estavam, pois entendi, que elas eram uma família e que poderia ser que alguma estivesse faltando.
Desci de novo até a fonte e começei a soprar uma por uma, mas elas impunham resistência e não queriam sair. Soprei mais forte e elas se foram, mas ficaram me rodeando.
Fiquei feliz e não parava de pensar no ocorrido. Era demais!!!! Muito lindo!
O dia passou depressa e caminhei por toda a chácara. Foi MARAVILHOSO. Eu estava precisando mesmo, pois no dia seguinte iria fazer um exame de ressonância magnética e precisava disso para relaxar.
No dia seguinte eu estava lá no hospital para fazer o meu exame.Porém,eu sou castrofóbica e estava morrendo de mêdo de entrar naquela máquina horrorosa. Orei muito antes de sair, para não entender que estava prêsa naquilo. Determinei que fecharia os meus olhos e não os abriria nem um segundo sequer enquanto não terminasse. Assim fiz.
A moça me deu uma campahinha, para no caso de eu passar mal, apertá-la e eu a mantinha firme na mão. Mas...quando eu entrei no túnel, de olhos fechados, começei a ver aquela cena das borboletas, aquela claridade que o sol trazia por entre as árvores, ouvi os pássaros todos cantando e até bebi daquela água da fonte. Foi meia hora de exame e lembrei de tudo. Revivi aquele episódio todo. Subi com as borboletas, ouvi o silêncio que o barulho da natureza faz, o barulho da água daquela fonte límpida e olhei as borboletas uma a uma e as contei. Eu estava naquele cenário outra vez. Foi uma coisa incrível!!!! Eu não pensei em momento algum que estava dentro daquele túnel sufocante. Respirei o ar puro daquele lugar, onde com certeza, ainda voltarei.
Contei a minha irmã o que tinha acontecido e ela disse que eu sou uma flor, pois as borboletas ficam nas flores e que eu sou uma flor de cerejeira!!!!
Nunca mais na minha vida, enquanto eu viver, esquecerei daquele dia ensolarado e cheio de beleza!
Aquele exame me fez entrar no túnel do tempo!
Obs:o título deste conto, de minha autoria, me foi sugerido pela minha amiga querida, Bettina Fux, ilustre incentivadora da cultura carioca.
Direitos autorais reservados a autora.NÃO AUTORIZO CÓPIAS.