entreato ,reflexões de .......um sapo
A última fôlha caiu,deixando os galhos desnudos.Começava,assim,a estação do recolhimento.O azul celeste,há muito,fôra substituido pela brancura imaculada,tal qual fôlha de virgem de papel a esperar que a pena afilada do poeta gravasse os primeiros lamentos na superfície do vegetal transformado.
O frescor úmido outonal cedera sua vez ao frio impiedoso que ,à semelhança de tórrida fornalha ,queimava as árvores com seus frutos remanescentes.Estes ainda exibiam a lembrança alegre da primavera,através das marcas deixadas pelos bicos dos buliçosos passarinhos.A pêra,parcialmente ,decomposta,adormecia feliz com sua curta,mas,prazeirosa missão de alimentar os jardineiros da natureza e propiciar energia para o alegre canto.O fino veio d'água cristalina,preciosa fonte do brejo,transformara-se em pobre solo arenoso de pedras e gravetos inertes.
A grande energia vital recolhera-se,ceifando incalculável número de existências,qual rôlo a esmagar suplicantes e indefesos seres,desesperadas criaturas sob pêso da fôrça aniquiladora.
Eu,pobre sapo bufo,assistira a inúmeros invernos tornarem em nada o esfôrço da criação.Sofria a cada ciclo,com tamanho desperdicio.Mal podia resistir,com choro convulso,à aparente incoerência...
A estação fria mortificava entidades de rara beleza,tais como,as flores anuais,colibris e borboletas,e poupava,desgraçadamente,a mim,
horrível organismo,que resistia,fàcilmente,aos rigores da natureza insensível.
A muito custo,porém,percebi a grande sabedoria da eterna renovação.
Entendi,por fim,porque era um ser impar,único,no meio daquela diversidade.Sentia,agora,com alegria,que não era imortal,enquanto sapo bruxulento,mas,carregava comigo a essência da vida infinita.
Senti-me,como que desperto do sonho ilusório dos apegos.Auscultei um poderoso pulsar naquele dormitório silencioso de destruição.
Animei-me,então,a percorrer com olhar de esperança a região dormente,que brevemente,iria renascer com o mais tímido mormaço dos raios do sol vivificante...