LEITO DE MORTE
Era seu leito de morte, a vida que vivera fora curta, em relação ao tempo: setenta anos, só, as pirâmides tinham muito mais!
Mas, a vida seria longa se fosse contar experiências, com sua cota de misérias e glórias, de risos e lágrimas.
Os filhos, seus e dos outros, lá fora, no mundo. Não chamava ninguém para assistir a derradeira cena da sua longa vida de atriz.
Do lado, o marido. Que não tinha sido chamado mas convocado! Comera a carne, roesse os ossos.
Ele chorava suas lágrimas, ainda que em meio a acusações amorosas:
- Madalena, minha filha, se, pelo menos, você não tivesse fumado, comido tanta besteira, se, ao menos, não tivesse bebido tanto!
- Oh, Horácio, cale-se, por favor - disse a defunta malcriada e ofegante - Por você eu não teria nem fumado, nem bebido, nem comido e, sobretudo, nem vivido. Por você eu seria, como você mesmo, um profissional da arrogância dos corretos. Você me roubaria o ofício de viver, se pudesse.
PS: me sugiram um título melhor.