A VOLTA DA BONITINHA

- Bonitinho é o feio arrumado!

Aquela frase lhe doia como uma pedra. E ela não passava de bonitinha, por muito favor dos amigos e parentes, próximos. E assim sendo neca de namorado, neca de emoção.

- O amor é para os lindos! - pensava, tapando com um tabique, todas as reais possibilidades.

Feios arrumados a queriam, mas ela via apenas os lindos. Só bonitinha e burrinha (também), acrescente-se, afastava de si as agruras do amor. Mas, aí deu de se apaixonar. A bonitinha apaixonou-se pelo improvável.

Nem que a vaca voasse ele a queria, então, a bonitinha (nem tão burrinha como parecia) tornou-se melhor amiga, que é o mais próximo de namorada que ela poderia vir a ser.

E ai deu de ser conselheira - como? nunca tinha tido um relacionamento sério, que poderia saber?. Deu de ser perpetuamente infantil - precisava de proteção, coitadinha. Deu de ser cupido - ao menos podia saber notícias daquele corpo desejado. Deu de fazer parte do Conselho Tutelar dos namoros alheios - assim podia saber detalhes capciosos e exitar-se, das brigas e exultar, das dores e consolar. Deu para invadir jardins e roubar rosas - só assim o perfume, só mesmo assim.

Virou planta parasita, por não poder tornar-se trepadeira.

E as rosas murchavam céleres, abafadas pela jibóia.