UM ENIGMA NO MEIO DA CARA

Se ao menos a compreensão lhe chegasse! pensava desfeita no sofá da sala mal iluminada. A dor de cabeça que começara como um ponto latejante na testa agora lhe doia como uma britadeira em pleno asfalto.

Esforço mental desumano. Maldade pura, lhe jogar um enigma na cara, em meio ao churrasco organizado por amigos comuns.

- Vou lhe dizer a frase do jeito mais simples, pra ver se tu entende: VOCÊ ENCHE!

Ele podia ter sido mais claro, isso sim. Mas, tinha ido embora sem explicar nada! Ela lhe enchia de amor, de carinho de atenção. Ela fazia questão de enchê-lo de carinhos e cuidados. Não era por acaso sua mulher? Bem, pelo menos não pretendia ser?Não dava para entender. Por que ele se aborrecia se ela ligava vinte ou trinta vezes por dia, só para ouvir sua voz? Era saudade que sentia dele. Por que ele se aborrecia se ela lhe comprava camisas e calças na última moda? Tudo bem gostar de jeans e camisa de botão, mas era por amor que ela o fazia. E se lhe comprava presentinhos toda semana era para comemorar o fato de estarem juntos! E quando não queria ir embora do apartamento é por que tinha certeza que um dia ele permitiria que coabitasse no espaço sagrado da sua vida. Tinha ciúmes sim! Lógico! Não era para ter? Ela o amava, qualquer momento que o roubasse dela era um enorme prejuízo. Mesmo aquele trabalho dele não o deixa em paz! Oito horas sem vê-lo era mais do que ela podia suportar, e por isso invadia sua sala. Por que ele fica constrangido em frente aos colegas? Por que não aceitava que ele levasse cestas lindíssimas de lanche? Definitivamente não dava para entender esse comportamento dele. Era melhor deixar tudo como estava, ele era inteligente, iria perceber o amor imenso.

Daqui à quatro meses eles farão seis meses de namoro - que ele insiste em dizer que é ficada, imagine! - ai as coisas, com certeza, vão melhorar.