A Ponte
Aí vi a ponte.
Não era de concreto, nem havia como. Era um tronco roliço e cor de terra. Estava úmido e apoiado nas extremidades do rio que corria com sua sublime ferocidade lá em baixo.
Os meus olhos estavam em meio às águas que sacolejavam entre as pedras, estas cortavam o ritmo frenético das corredeiras. E assim era o desenho do véu cadente; parte sublimava junto às nuvens, e parte descia cristalina criando um poço límpido e transparente a baixo. Digo sublimava pois a temperatura do líquido que lá estava, quase o tornava sólido, e o sol era escaldante e fazia a terra arder.
Nesse momento, todo sangue era pouco e todo coração pequeno. Ouvia cada pulsar nas minhas veias e o sentimento predominante era o medo.
Por quatro ou oito vezes, essa inconstância física se repetiu. Porém, na última, houve uma diferença especial.
Meus olhos correram no sentido do horizonte e miraram a plenitude azul. À cima, o céu e mais nada.
Meus pés caminharam firmes, como se fossem enraizados no tronco a cada passo. Minha travessia foi, então, completa. Nem, se quer, dei-me conta do caminho.
No final, eu estava sob e sobre a perfeição do equilíbrio: O céu e a Terra.