Primeiro Encontro
E aqui nessa lanchonete onde nunca estive antes, estou sentado de frente pra você. E posso olhar nos seus olhos, desenhar seus traços, sentir seu hálito, perceber às sombras de sua face quando a clara e imponente luz do sol abre a cortina de escuridão que envolve seu rosto, ou que envolve meus olhos. Não sei se o que vejo em você é o que você realmente é ou se és o produto embaçado dos meus olhos que refletem as remotas lembranças da minha mente.
Sei que mesmo com você aqui tão perto, representando um novo amor, uma nova atitude de vida, uma nova visão de sentimentos, não consigo parar de pensar no ultrajado e velho amor que estivera acostumado e submetido por anos. Nossos sentimentos e nossos corpos interagindo da maneira mais inocente, buscando e reconhecendo o olhar do outro com a esperança de que essa interação sempre se repita, abrem espaço para minhas lembranças obsoletas, para minhas sensações já experenciadas.
E, mesmo com você perto de mim não consigo esquecer aquela, não consigo me desvencilhar de cenas de amores anteriores. E, ao abrir a boca pra votar na nossa música-tema de casal recém apaixonado, é inevitável não recordar. Meu momento déja vu é embalado pela música do Djavan. déja avant. E assim tenho certeza de que "é doce morrer nesse mar de lembrar e nunca esquecer" e que "mesmo com toda riqueza dos sheiks árabes, não te esquecerei um dia. Nem um dia"
Sorrio. Mas não pra você. Você quer passar a tarde toda cantarolando Djavan e eu não te impeço porque ainda quero me lembrar do amor que já vivi antes de você. Mas que um dia vai passar quando esses nossos encontros se repetirem e quando meu olhar estiver disposto a te decifrar e, então, entenderás que, no silêncio, você verdadeiramente determina o som que embala nosso amor.