BABA DE MOÇA

CONTINHOS MARGINAIS I

BABA DE MOÇA

Ele a conhecia de vista; moravam no mesmo bairro, passavam pelos mesmos lugares.

Ela há muito estava de olho nele: alto, olhos claros, bonito, sarado, bem empregado.

Ele começou a notá-la, de manhã cedo, na estação do Meier, à espera do trem que deixava a zona norte, com destino à Central do Brasil, no centro do Rio.

- Era uma bela morena; -pensou: carioca desembaraçada, roliça, cheia de curvas, cabelão, enfim, era bem o seu tipo.

Ele não sabia, mas ela cultivava uma grande paixão: os doces.

Um dia se casaram, e ele se fartou nos quitutes dela: cocada, olho de sogra, brigadeiro, cajuzinho, fios de ovos, pé-de-moleque, bem-casados, sonhos, tudo caramelado.

Com o passar dos anos, ele se tornou diabético e ela obesa.

Pra compensar tanto amargor, todo dia ela chorava um tabuleiro de suspiros salpicados com raspas de limão, e ele sonhava com sua pele morena, coberta com calda de chocolate e recheada com baba de moça.

FIM