Insônia
Deitado, com olhar fixo para o teto branco, à noite, o tempo se extinguia. As horas, como se entrassem em um buraco negro, onde os segundos e milissegundos eram sugados para o desconhecido. O sono não cumpria com seu dever; a aflição aos poucos me consumia, como larvas em cima de um cadáver putrefato. O silêncio, começava a zumbir como insetos aos ouvidos. Mas o barulho da descarga do vizinho, os excrementos percorrendo a encanação, interrompia o silêncio. Minha mente vagava por labirintos tortuosos, revivendo memórias e antecipando futuros incertos. As sombras do quarto começavam a formar figuras que me observavam fixamente. A insônia, cruel comigo, me impedia de afundar de vez no mundo dos sonhos. Uma condenação à solidão e à introspecção. Ao nascer do sol, as figuras metamorfoseadas das sombras já tinham ido dormir. E eu permanecia deitado, fixamente, olhando para o espelho.