cenas cotidianas 27

 

 

 

 

Em uma pequena casa no final de uma rua tranquila, o silêncio era interrompido apenas pelo suave sussurro do vento e pelo tic-tac monótono do relógio na parede. Ali, deitado em uma cama simples, jazia um idoso chamado Augusto, cujo corpo frágil e mente cansada eram prisioneiros de uma doença implacável que o havia deixado acamado e distante do mundo que um dia conhecera.

Enquanto a luz do sol filtrava pelas cortinas entreabertas, revelando poeira dançante e fotografias antigas alinhadas em uma cômoda gasta, Augusto permanecia imóvel, seus olhos semicerrados perdidos em um horizonte invisível de lembranças e sonhos entrelaçados. As rugas em seu rosto marcavam os anos vividos com intensidade, cada linha contando a história de uma vida repleta de altos e baixos, alegrias e tristezas entrelaçadas como fios de um tecido desgastado pelo tempo.

Seus familiares visitavam-no regularmente, trazendo consigo sorrisos forçados e palavras reconfortantes que ecoavam no quarto silencioso como promessas vazias de um amanhã incerto. Enquanto suas vozes se desvaneciam no ar impregnado de saudade e resignação, Augusto aferrava-se às lembranças que o transportavam para longe da solidão claustrofóbica de sua existência confinada.

Nas asas da memória, ele voava para tempos passados repletos de cores vibrantes e aromas familiares: o cheiro reconfortante do café recém-passado na cozinha ao amanhecer, as risadas alegres de seus filhos brincando no jardim ensolarado, o toque suave da mão de sua esposa agora ausente que acariciava sua pele envelhecida com carinho infinito.

Enquanto o crepúsculo tingia o céu com tons dourados e sombras melancólicas se espalhavam pelo quarto adormecido, Augusto cerrava os olhos lentamente, rendendo-se à doce melodia da nostalgia que embalava sua alma cansada como uma canção de ninar eterna.

E assim, o idoso acamado encontrava refúgio nas asas da memória, onde o passado e o presente se fundiam em um abraço caloroso que transcendia as limitações físicas de seu corpo debilitado.

 

 

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 26/07/2024
Código do texto: T8115007
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