O VULTO
Nos campanários os gárgulas miravam, a cidade adormecida nas brumas da noite. Flutuava a neblina sinistra pelas ruas, desenhando sombras de siluetas fantasmagóricas. Piou a coruja gore, empoleirada na torre, bateu o sino de bronze, a hora do insône. Sossobrava o vento uma balada, de almas penadas, dos desmortos soturnos, entidades do além-túmulo. Rasgou o silêncio da noite, um maulido macabro, fugiram os gatos vagantes a se esconder nos becos. A silueta disforme andava pelas ruas mortas, olhando as casas escuras. O eco de passos, de guinchos de ratos, sem nenhum rastro, ia caminhando sorrateiro de bairro em bairro. Tinha um objeto reluzente, se movia igual zombi, pelas mudas portas, sem obter resposta. Desistiu o espectro de assombrar as alâmedas, sumiu envolto nas sombras do nevoeiro, o vulto sem sossêgo.
No romper da aurora, nos raios da alvorada, se abriram todas as portas, pessoas saíram para fora, pegar o jornal das caixas.
O vulto era o jornaleiro solitário na labuta, puxando a gaiota.
FIM
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