OLHANDO PARA O CÉU
Antônio está desempregado desde o final de 2020. Três filhos pequenos e uma esposa enferma que mal consegue se manter de pé. Na periferia da cidade se aboletava com a família num barraco de três cômodos. O grosso do material para ampliar a casa estava se perdendo na calçada. O montículo de pedra de mão ainda intocado, mas a brita fora quase toda surrupiada pelos vizinhos e a areia, apensar de barrada com algumas pedras e tijoslos, continuava sendo varrida pelas águas da chuva.
Trabalhou anos a fio como Chão de Fábrica, ambulante, servente de pedreiro e agora tinha que se virar com o que dava. E o que dava era quase nada. Currículos vazios espalhados pela cidade toda. Ao seu lado, todos os dias, marchava um exército de condenados sem crime. Eram situações ainda piores do que a sua.
Os bicos escasseavam a cada manhã. Já tentara de tudo, recolhia material para reciclagem pelas ruas, vendia sua força física para os trabalhos mais brutais. Porém, nem isso ultimamente vinha conseguindo. Voltava à noitinha para casa. Não raro ficava sem se alimentar para que não faltasse a sopa de macarrão insípida para os seus entes queridos. Ele não conseguia mais olhar nos olhos dos filhos. Apenas os observava murcharem lenta e dolorosamente a cada dia. Nem tinham mais ânimo para os folguedos. Sua esposa, esquálida, sofria em silêncio doloroso, sepucral, parecia dizer que não dava mais para seguir vivendo.
Antônio não chorava, às vezes as lágrimas não lavam a alma, somente abrem feridas. Ele apenas pensava. Pensava obsessivamente em voltar para o interior, para a roça onde crescera acostumado a viver de cabeça arriada e na labuta com a terra infértil do norte de Minas. Mas que terra? A gleba, o mato, o rio, nunca foram dele!
A vida para alguns era doída do início ao fim e não havia qualquer saída, apenas a resignação. Homens emudecidos como ele eram fantoches na cidade ou espantalhos no campo. Dava no mesmo. Seus pais e avós, e antes deles seus bisavós, fertilizaram o chão alheio com o suor e com os próprios corpos, nunca tiveram nada, nem um torrão! Essa era a sina amarga, inevitável.
Antônio olha para o céu...