O TELEFONE

A mãe morreu primeiro. Anos depois, o pai. Embora fosse adulta e com família constituída, ela se viu só, meio perdida. Sentia falta dos pais, feito criança órfã. Passou pelo tempo do luto e, depois, voltou ao trabalho. Lá, durante mais ou menos 2 meses, em determinada hora, parava o que estava fazendo, pegava o telefone e ligava para a casa do pai e da mãe, sabendo que nela não havia ninguém. A casa estava fechada até então.

Discar o número do telefone fazia com que ela imaginasse que um dos dois iria atender. Deixava tocar bastante, e aí desistia. Nesses momentos, ela também parecia querer repetir as conversas que tinha com eles pelo aparelho. Era a saudade gritando alto, pois não cabia no coração; precisava ser externada de alguma forma. Ela, na verdade, sou eu. Sou eu agora num instante de recordação.

 

(Glaucia R Lira)