Basta apanhar um ônibus...
- Pois é amigo Brivaldo. A gente pode voltar no tempo sim!
- Hei Valter! Lá vem você com seus assuntos de ficção científica!
- Não, não! Não é ficção não! Veja: eu participava daquela rotina! Era parte dela. Vivia na minha cidadezinha do interior, que você conhece, conversando com o pessoal da minha idade, entre 14 e 17 anos. Olhando as meninas passarem na esquina. Passava duas horas para comprar o pão, de tanto que me distraia pelo trajeto com a luz do cair da tarde como pano de fundo. Fazia isso diariamente e me sentia feliz naquele tipo de vida sem perspectivas. Estava no meu habitat. Aí, a gente se muda para a capital, mora em república ou na casa dos tios e vê que vida é muito mais. Hoje, estou aqui formado conversando com você e com mil preocupações com cursos de pós-graduação, sistema de informática, reunião daqui a dois dias com a diretoria da empresa e, no último final de semana, estive na minha cidade da qual lhe falo. Parei na rua, olhei o por do sol com o saco de pães comprados na mesma padaria e, adivinhe: Aqueles meus amigos da adolescência estavam todos lá, na esquina olhando as garotas passarem do mesmo jeito de antes. Achei incrível como eles continuam com esse hábito. Senti-me de volta, apesar de todos estarem com 30, 35 anos!
Nesse momento a gente descobre que pode voltar no tempo sim! Sentindo-se parte daquelas emoções e participando da conversa deles, porém, dá certa nostalgia. Passa uma solidão sabermos que quem saiu da cidade assim como eu pode voltar e alcançá-los nessa espécie de passado, mas eles jamais poderão acompanhar a minha realidade. Eu nunca os teria comigo nos novos rumos que dei à minha vida. E isso faz de mim um privilegiado por poder viver em dois mundos. Basta apanhar um ônibus...