A nova realidade
Todos na parede. Se não os encontra noutro lugar, tem todos ali, dependurados nos seus trajes antigos, sorrisos acanhados, a foto de família dos anos passados. Deixou-os por lá, como se petrificados naquele conjunto que vem desbotando ao longo dos anos. Por vezes, para na frente deles, procura lembrar-se de outro tempo, em que eles se mexiam, falavam, gritavam, agiam, brincavam, brigavam.
A acompanhante encontra-a embevecida diante do quadro da família, os olhos molhados, o olhar para longe, muito longe. “Aqui estão todos”, ela murmura. “Sei”, responde a outra. “Tenho uma notícia para lhe dar." “Boa?” “Sim. Imagine quem está vindo ver a senhora.” Imobiliza-se na tensão. Os segundos eternizam-se. “A sua filha que mora no México.”
A moça observa-lhe a reação. Ela sorri e solta um ‘Deus seja bendito!.’. “Contente?” “Não são todos, mas…” Olha amorosamente para o filho que já se foi, para o marido. “Mas é bom ver a Suzana, muito bom!” Põe-se a perguntar sobre os pormenores da visita. Um dos membros da família ganha vida e salta do quadro para a realidade.
Oservação: reedição.