Alvorecer

Era muito cedo, o sol começava a clarear o dia, quando sentou naquela manhã em frente ao computador. Havia acordado de madrugada, o que não era raro nos últimos tempos. Tinha por objetivo escrever, o que constituía o seu ofício há vários anos, criar, em suma.

Acomodou-se o melhor que pode, vislumbrou os primeiros raios de luz daquela manhã, esperou. E, enquanto esperava, filmes passavam em sua mente, reminiscências mais ou menos vivas. Evitava pensar na viagem de Pedro, que lhe soava como despedida. Evitava imaginar o que ele estaria fazendo naquele momento, naquele exato momento. Lembrou a si mesma que se encontrava ali à espreita de um tema, fosse ele qual fosse. Menos a sua história pessoal.

Lentamente, passavam os segundos, os minutos; as horas começavam a escoar, ao longo daquele exercício que se havia imposto. Até que colocaram a chave na fechadura da porta da frente, levou quase um susto. Logo deu-se conta de que chegava a moça que vinha limpar a casa uma vez por semana. Nove horas! Levantou-se, foi ao encontro de alguém que, de alguma forma, parecia libertá-la. Mais uma vez, a tela continuava em branco.