O emissário

Quando ela chegou ao térreo, com um envelope numa das mãos, o rapaz que a esperava junto ao portão sorriu levemente e a cumprimentou. “Como vai a senhora?”, perguntou. “Vou bem, obrigada”, respondeu, enquanto lhe estendia o envelope.

Dois dias depois, no momento em que o perito lhe entregou as fotos captadas pelas câmeras do edifício, ela se lembrou do singelo diálogo. Ao examinar as imagens, deu-se conta de quão jovem era o rapaz que fora encarregado daquela missão.

Dois ou três meses mais tarde, recebeu um telefonema da delegacia. “A senhora gostaria de fazer o reconhecimento do indivíduo que foi à sua casa?” “Ele foi encontrado?”, surpreendeu-se. “Sim, já estava sendo acompanhado há algum tempo, foi visto em outras cidades.” Ela se encolheu: “Preciso ir?” “Se quiser. Vários já o reconheceram.”

Declinou do convite. A imagem do rapaz que viera recolher os seus cartões, conforme acordara pelo telefone com o pretenso funcionário do banco, não lhe saía da cabeça. Pensava se deveria ter ido à delegacia. Poderia sentir-se melhor se conseguisse responder ao meliante: “Eu estava muito bem até o momento em que vocês surrupiaram o meu dinheiro, eis a verdade”. Aconchegou-se no sofá, entregue a um vazio agoniante.