O menino de apartamento

O menino de apartamento pela primeira vez caminha na estrada enlameada. Há um susto! Muitos por sinal. Porque pela primeira vez estava com os pés nus em um ambiente fora de seu quarto. Quarto repleto de aparatos eletrônicos os quais davam a ele uma virtualidade dentro da qual era mestre.

Na virtualidade, o menino era mestre de tudo! O "Mestre tudo!", assim se intitulava.

Mas teve de sair certo dia. Sim! Justo neste dia de estrada enlameada nos pés e respingos na roupa. A contra gosto a saída. Mas diante de determinação dos adultos, pouco se pode fazer a não ser acatar.

Acatou uma ordem como quem acata penitência a ser cumprida. O menino caminhava com os olhos marejados de saudade de suas virtualidades presentes num quarto onde se enfornava.

Nem mesmo o sol que batia - após dias sucessivos de temporais - animava o menino. Nem mesmo o canto dos pássaros dentro de uma manhã recém nascida, nem mesmo o ar fresco por um entorno cercado de árvores e com um cheiro de um mato repleto de ervas que aguçavam o nariz.

O menino queria o quarto. O menino queria sair dali. Todavia, não havia nada que pudesse fazer o menino: era caminhar na terra enlameada pela primeira vez na vida e tirar uma lição de tudo aquilo, diante da falta do que presava.

O seu pai, ignorando a cara fechada e triste do menino, vez ou outra no percurso exclamava: "Apenas ande e sinta a terra menino! Apenas ande..."

São José, 21 de junho de 2021.

Cleber Caetano Maranhão