DEUS MANDA PECAR

Marçal se sentiu excessivamente humano desde que passou a transgredir com frequência o nono mandamento. Concretizar a façanha seria um pecado que levaria às consequências que não podia avaliar, já que o mundo estava infestado de bombas incendiárias produzidas por fatos semelhantes.

Sentou-se na posição de tuxaua e ficou a ruminar. Um pássaro veio gorjear sobre sua cabeça. Nefastos acontecimentos rondavam, era a moral dos tempos.

Deus ficou a ali ao lado a fitá-lo, semblante austero a esperar uma reação sua. Os entes sábios possuem esses cestros que não ficou claro se era uma virtude ou um excesso de tolerância.

Nada sabia do vulcão que foi eclodir na Praça São Pedro, a poucos metros da janela papal. O abalo levou o pontífice a jogar a toalha, passando imediatamente o bastão.

Hoje pouco se sabe do novo reinado, a não ser uma lúcida dissimulação do santo vigário. Ele ordena a orbitar em torno do templo tridimensional depois de desembarcar da nave chamada Terra. Se não se descobrir o bálsamo para o pecado, fica-se zonzo para todo o sempre.

A alma está na mão calejada do demônio, sendo apertada, com viagem comprada para o inferno. E o mau olhar vai conduzindo a esse caminho.

A sala está repleta de crianças assistindo às novelas com sexo explícito, pais espancando os filhos, filhos falando imprecações ao ouvido dos pais.

Infinitamente pequeno para Caim e Abel, o paraíso desestruturado, como comportaria China, Rússia, Eua e União Europeia em perfeita harmonia? O Cains que ora imperam, botam fora de combate os Abeis que se apresentam como ameaça.

O papa abençoa as orgias e excomunga o antídoto do vírus. Prefere iluminar os caminhos que levam a Marte a obscurecer a rua da periferia onde mora Marçal.

Vendo a terra desbarrancando sob seus pés, feito uma sepultura que se abre sozinha, Marçal acreditou no amor daquela mulher e foi cair numa abominável cilada. Ela havia mentido desmedidamente perante o vigário, que também fingiu acreditar. Simplório, foi servir de espeque para um amante com quem ela realmente realizava as fantasias demoníacas, atrás de um biombo, aquela maldita aventura ratificada pelo homem de batina lilás.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 21/03/2021
Reeditado em 21/03/2021
Código do texto: T7212763
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