“Déjà vu”
“Olhei pela janela e a vi, linda e nua a lua me sorriu, um sorriso debochado que me incitou... então me joguei e tentei, em vão, alcançá-la, e foi caindo no abismo da noite que pude, enfim, resgatar meus sonhos fragmentados, caindo como pétalas de prata sobre meu corpo condenado...”.
O coração parecia querer sair pela boca, taquicardia, minha nuca nunca suara tão frio. O relógio no criado mudo marcava três horas da madrugada. Estava eu, então, acordada no meio da noite assustada com o pesadelo, a sensação de cair no abismo ainda tomava conta do meu corpo. Minha boca seca pelo susto me pedia água. Fui até a cozinha tateando as paredes do corredor, deixei que apenas a sombra da noite me guiasse, a luz num repente me causa dor nos olhos. Quando voltei ao quarto fui até a janela e numa visão embaçada percebi um pequeno grupo de pessoas que já se formava em volta do que me pareceu ser um corpo caído no asfalto. Olhei prá cima e vi a lua, linda e crua... me sorriu um sorriso debochado que me instigou... intrigada olhei para baixo e nada mais vi, não havia pessoas, nenhum corpo no chão, nenhum som, a rua deserta. Apenas a noite silenciosa sob a vigília da lua misteriosa. Voltei para a cama e adormeci com uma estranha sensação “déjà vu”, mas ao contrário do que temia, dormi um sono tranqüilo, como há muito não dormia e, a partir dessa noite, voltei a sonhar, como há muito não sonhava.