O LIVRO DE ANITA (*)
“Você é muito linda!...” Foi assim o começo. Era uma tarde de muito calor e céu azul. Um padre jovem, alto, elegante, olhos verdes, batina puída, guarda-chuva desbotado, mala de papelão de cantos amassados, chegara ao povoado para cuidar da alma da gente de um povoado num fim de mundo. Viera para substituir o idoso vigário, falecido dias antes.
Hoje, Anita folheia o livro que escrevia há 3 anos, a cada noite, a pouca luz. Páginas e páginas de história daquele que um dia ela fora esperar no ponto de ônibus da praça e que havia sido instalado num quarto simples da casa paroquial. Cama, armário, mesa e cadeira. De decoração, além da cruz de Cristo, uma jarra com um solitário botão de rosa branca preste a se abrir, que parece haver estado lá pelos últimos 30 anos.
“Melhor nem escrever o final.”........ “E as entrelinhas?...” Anita senta-se no chão e rasga cada uma das folhas de sua narrativa. Então, pedaço por pedaço, mistura tudo com as folhas secas do jardim. E faz uma fogueira tão grande como aquela que sente dentro de si.
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