A sereia e o barqueiro
Em um tempo distante, o oceano era revolto e as pessoas temiam entrar em suas águas. Eram poucos os que se aventuravam no além-mar, dentre eles um habilidoso barqueiro de uma pequena aldeia de pescadores. Todas as manhãs, ele tomava seu diminuto veleiro e saía em busca do sustento diário.
Certo dia, o oceano, cansado de sua insolência, enviou-lhe um violento tufão. Mesmo a experiência do barqueiro não foi capaz de salvar-lhe do infortúnio: seu barco foi destruído pela tempestade inclemente. Em pouco tempo, só restavam escombros e ele se agarrou a uma tora de madeira para não morrer afogado.
Por muitos dias, ficou ao relento, desamparado. Não lhe restavam esperanças de voltar à costa e ele foi tragado pelas águas. Aquele pequeno pedaço de madeira era sua única esperança de vida e ele agarrava-se àquilo com todas as suas forças.
Até que surgiu das profundezas uma sereia. Era linda. De olhos verdes e cabelos compridos, ela decidiu ajudar-lhe. Transformou o escombro em um navio e indicou o caminho de volta ao vilarejo. O homem não acreditava, surpreso pela aparição e pela generosidade da sereia. E ela nadou com ele até que estivesse são e salvo na terra.
A partir daquele dia, o barqueiro velejava todas as manhãs em busca da sereia. No início, ela o evitava, mas logo percebeu que também queria encontrá-lo. E eles conversavam e riam em alto-mar. Um gostava da companhia do outro, mesmo que o encontro fosse limitado pela natureza dos dois: o barqueiro era humano e não saía de seu barco para não se afogar; e a sereia necessitava do oceano para sobreviver.
Eles estavam frustrados com aquilo. Queriam mais liberdade, queriam superar as limitações que a vida lhes impunha... até que o acaso os ajudou. Em uma de suas jornadas, o barqueiro foi levado por ventos inesperados até uma ilha paradisíaca. Lá, havia uma enseada de águas calmas e rasas, que lhe permitiam nadar sem medo da profundidade.
Chamou pela sereia. Ela inicialmente recusou. Estava cansada e pretendia se perder no oceano de novo, pois acreditava que seria impossível amar um humano. Mas, ao ver a linda enseada, tornou a pensar no barqueiro e foi encontrar com ele... e assim fizeram, e assim amaram, por longos anos.
O oceano revolto não foi o bastante para recusar o amor. Eles o venceram.