SACOLA DE DINHEIRO. Série Verdades...
SACOLA DE DINHEIRO - SÉRIE VERDADES QUE EU CONTO
Na década dos anos 1970, adquiri uma propriedade rural na BR-242, próxima à cidade de Barreiras, na Bahia.
À época residia no Rio de Janeiro com minha família e a tal rodovia ainda era de meter medo a corredores de enduros...
Para lá fiz inúmeras viagens e tenho muitas lembranças interessantes, numa época em que tudo era difícil, não havia telefones, a viagem de Salvador a Barreiras durava um dia. Normalmente eu parava na Lagoa de Oscar, onde o Zequinha, meu capataz, mantinha uma pensão horrorosa, mais feia que sua mulher...
A água para o banho era leitosa e só bebíamos cerveja ou refrigerantes...
Nesse período, fiz um negócio com o Banco do Brasil para a compra de um gado. A valores atuais, daria cerca de 300 mil reais e a garantia era a própria fazenda...
Eu havia comprado o gado e pago uma parte, ficando o vendedor na expectativa da liberação do financiamento para receber a segunda metade do negócio.
O Banco chamou-me para assinar a cédula pignoratícia que tive de registrar no Cartório de Registro de Imóveis de Angical e levar de volta ao Banco a papelada para liberação da grana. E o dinheiro saiu no dia seguinte.
Nesse ínterim, havia combinado com o vendedor do gado que pagaria nas dependências do BB a quantia certa do débito e marquei horário. Na hora aprazada, lá estava ele. Fiz o pagamento, ainda lhe comprei dois garrotes nelore para mandar juntar ao gado que se encontrava na fazenda. Depois de contar o dinheiro, coloquei-o num saco de papel de supermercado, fui até a Coletoria Estadual tirar a guia de transporte dos garrotes e pagar o imposto e fiquei conversando com o Coletor na expectativa da chegada do caminhão que contratara para levar os animais. Enquanto isso, descansei o saco de papel recheado de papel moeda no balcão da Coletoria.
Conversa lá, conversa cá, eis que chegou o caminhão que levou os garrotes. Apertei a mão do coletor, peguei meu Maverick vermelho e ... zas... Peguei a estrada de volta...
Após meia hora de viagem lembrei do dinheiro. Olhei para o banco do carona e para o banco traseiro, só minha pasta se encontrava por ali. Aí dei conta que tinha deixado o pacote na Coletoria. Fiz meia-volta com o carro e voei para Barreiras com um olho na estrada e outro no relógio, pois a Coletoria fechava às 13 horas e já passavam dez minutos do meio-dia. Cheguei em Barreiras a tempo. Parei na porta da Coletoria e fui entrando, meio desesperado, meio atabalhoado e vi logo sobre o balcão meu pacote de dinheiro.
- Olá, amigo, voltei para pegar estas compras que esqueci no balcão...
Falei ao Coletor, que respondeu:
- Olha Ricardo, várias pessoas passaram por aqui nesta hora e meia e eu perguntei a todas elas se este pacote não lhes pertencia, mas nem pensei em você, rapaz...
E eu disse todo feliz:
- Também, o pacote não tem identificação e se você soubesse
que mercadoria tem aí, jamais diria de quem fosse...
Ele sorriu e eu fui embora, feliz da vida...
Levei a grana para o Rio e lá chegando, comprei uma casa em Bangu e dei de presente à minha sogra, coisa que lhe havia prometido há dois anos...