Ladrar é preciso
Aquela noite seria fatal. Seu sono perdido seria vingado, e até com uma certa crueldade. Estava tudo preparado: ao primeiro latido o maldido vira-latas seria atingido de forma que não lhe tirasse a vida mas que lhe restassem "lembranças" o suficiente para não retornar àquele local... talvez nem uivasse mais de tão traumatizado que ficaria.
O momento era chegado, as horas diluíam a noite. Mas que estranho! Teria sido sabotado o plano? alguém teria avisado o pulguento cão do plano arquitetado?
Horas e mais horas de sentinela... e nada! .
"Ah cachorro fela da mãe... Mas deixe estar: Desta amanhã ele não passa.", Esbravejou Joaninha - "Minha vingança sera fatal...". Ainda algumas cervejas foram tomadas até que, em profundo silêncio... sem um rosnado sequer, o dia amanheceu incólume... Tão sereno que mais parecia Domingo! O sepulcral silêncio só foi cortado pelo caminhão do lixo. Bem de longe Joaninha viu sendo retirado do meio da rua o cadáver do pobre cão. Apesar de todo o plano, agora frustado, Joaninha não conteve uma lágrima quando viu o gari atirar o tal cadáver para o interior das moendas trituradoras do caminhão coletor. Aquele momento lhe pareceu por demais desumano. E o pior é que o arrependimento momentâneo não representou nada diante do silêncio mórbido que amarga até hoje, em suas noites de insonias...