Sonhos Frágeis
Houve um breve silêncio.
Ela levantou, se vestiu e, sem olhar para trás, foi embora.
Quantos sonhos caíram ali?
Ele permaneceu sentado, com as mãos cobrindo o rosto. Talvez não tivesse coragem suficiente para olhar. Lentamente deixou suas mãos escorrerem até seus cabelos, revelava para o chão seus olhos vermelhos, e uma gota amarga caiu.
Caiu como o pesar em seu coração, como o tormento se apoderava de sua alma, e todos os sonhos caíam ali. Quantos?
O vento gelado soprou e cessou. Ela abriu e fechou a porta lá fora. Sumiu a sombra tão presente.
Mais uma lágrima caiu...
Cerrou os punhos como se tentasse atravessar as mãos com os próprios dedos. Levantou de súbito atingindo um soco na porta. Quanta raiva mergulhada em rancor. Tinha vontade de juntar cada pedaço de sua vida e quebrar mais ainda.
Gritou, bateu, quebrou, extravasou até a última gota do veneno que lhe fora o amor. Até cair exausto na escuridão do quarto. O espelho observava sua sombra, ele era vigiado por ele mesmo, uma imagem caótica da sua intimidade podia lhe incomodar tanto que tinha vontade de destruir sua própria imagem. Queria o nada. Mais sonhos foram ao chão...
Dormiu ali mesmo, no chão, como se um holofote cósmico o iluminasse no palco da comédia trágica que é a vida para que todos rissem e se deleitassem do personagem. Mas não havia importância, ela levantara com os olhos secos, sem olhar para ele, sem se importar com o que as mãos dele escondiam. Mas era só dor. Ele era só dor.
Dormiu, era morfina, era alívio, era morte, era sumir do mundo para poder se encontrar. Mas ao acordar a memória lhe fez chorar.
Calmamente levantou, abriu uma gaveta. Lá, embaixo de suas roupas íntimas ele encontrara seu sonho liberto, o único que restara, o único duradouro. Mergulhou no vazio da sua infinitude.