Alumia

As luzes de natal exerciam-lhe  certo facínio. Andava com os olhos grudados nos pisca-piscas espalhados pela avenida. Eram coloridos ou de luz amarela e emprestavam um ar de magia à noite úmida. Dava gosto ver até as poças d'água iluminadas... Ia pensando no seu trajeto diário, enamorado daquela cidade linda, cuja população, misteriosamente, nunca o enxergava.
Ao chegar no seu posto de trabalho, o senhor de cabelos e vasta barba, ambos branco amarelada, vestia-se com a sua roupa de costume, calçava suas botas pretas emborrachadas, pegava o enorme saco de ráfia e seguia pela avenida fazendo o seu trabalho.
Todas as noites ele recolhia as latinhas e outros descartáveis que as pessoas deixavam durante o dia pelo chão. Trabalhava neste ofício havia muitos anos, mas só nas noites de dezembro, sentia que era percebido por alguém.
Ele se alegrava quando ouvia das crianças pequenas a esperada exclamação:
- Olhe o Papai Noel!
E então ele ria alto num tom grave:
- Ho, ho, ho!
E acenava de volta para os pequenos que caminhavam com os rostinhos voltados para trás, de mãos dadas aos pais alheios à situação.

Cláudia Machado

Nota: Foto extraída da internet. Trata-se de  Paulo Roberto Oliveira, um catador de materiais recicláveis de Avaré, interior de São Paulo. 
Trata-se de uma obra de ficção. Quaisquer semelhanças será mera coincidência.
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 02/12/2019
Reeditado em 03/12/2019
Código do texto: T6809430
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