CONTEMPLAÇÃO (*)
A moça passava horas e horas do dia tecendo fios para redes de pescar. Ao anoitecer, olhava o céu, olhava o mar, seguia o soprar do vento que mudava as folhas das palmeiras de seus lugares. Muda e só.
Foi assim até que uma tempestade deixou um barco quebrado na areia. Dentro de barco, um homem de modos e fala estrangeiros e um instrumento que luzia ao sol. Esse homem e sua música passaram a acompanhar-lhes o tecer de fios durante o dia e o contemplar do anoitecer. Não se sabe por quanto tempo. Assim foi, até que passou o encanto e ela preferiu passar seus dias e noites muda e só. Então o homem, com o barco remendado, sem dizer palavra, partiu num amanhecer.
Hoje, a cada chegar de noite, ela se põe a vigiar a linha do mar, o soprar das folhas, o brilhar das estrelas. Pode ser que espere outra tempestade.