RAZÃO DE SANGUE

_ A senhora queria matar a criança. Defenestrou-a.

_ Não, senhor juiz, não fiz isso. Só atirei a criança pela janela.

_ Deixou a criança crescer na sua barriga para então jogá-la pela janela.

_ Eu não queria a criança

_ E daí, resolveu matá-la.

_ Não queria matar. Mas não queria a criança

_ Como praticou o aborto?

_ Não fiz isso. Tomei chá de buchinha-paulista. A criança saiu.

_ Abortou a criança e jogou-a no ribeirão.

_ Não. Joguei-a pela janela logo que a aparei. A criança caiu no ribeirão.

_ E o pai? Também não queria a filha?

_ Não tinha pai. Nem avó, nem tios. Ninguém viu a barriga nem ninguém sabia da criança.

_ Mas, a criança saiu de sua barriga.

_Saiu. Porém, não a queria. Depois, foi o sangue. O sangue que desceu pelas minhas pernas me revelou.

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_ A ré fulana de tal, indiciada nos autos do processo X, está condenada a tantos anos de prisão. Regime fechado.

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 02/10/2007
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