Uma simples visita
Encontrou-o no quarto, um tanto quanto encolhido na cama espaçosa, olhando aleatoriamente a televisão, com aquele tipo de olhar que dá a impressão de nada ver. O barulho da porta fez com que virasse levemente a cabeça e observasse a sua entrada. Um sorriso meio sem vontade apontou no rosto emagrecido.
– Vim te ver, meu tio.
O velhote acomodou-se nos travesseiros, entre desconfiado e surpreso. Ele, propriamente, não sabia o que dizer, a não ser fazer umas perguntas sobre a situação do tio, que terminara sozinho, naquela clínica acanhada. Lembrava-se bem da época em que ele arrotava grandeza. Lembrava-se bem do desdém que demonstrava em relação aos que não considerava vencedores, como ele.
– Estão te tratando bem aqui?
Uma das mãos levantou-se num gesto vago, indefinido, os olhos meio que se fecharam, depois abriram-se lentamente. Aquele parente sempre o desconcertava, fosse no sucesso, fosse na decadência. Sim, era assim que o via agora, triste e esquecido. Explicou-lhe que ia viajar em seguida, de volta para casa. Saiu pensativo, estaria ele captando algo, naquela altura dos acontecimentos?
Encontrou a dois passos da clínica uma casa de cestas de presente, cestas caprichosamente adornadas, com conteúdos apetitosos: frutas, doces, mimos diversos. Comprou uma e pediu que entregassem no quarto do tio. Aquela iniciativa atenuou o desconforto que experimentava, enquanto se distanciava da cena que acabava de vivenciar.