Alicate de unha

Pulou do ônibus ouvindo risinhos atrás de si. Quase não se conteve mas lembrou-se da bíblia, da mulher de Lot. Sentiu um líquido leitoso escorrendo espesso pela perna e abaixou a cabeça, entre a humilhação e os engulhos, enquanto o coletivo dobrava a esquina.

O resto do caminho fez a pé e chegou a tempo de atender sua última cliente do dia. O alicate de unhas obedecia com precisão cirúrgica aos movimentos mínimos e fortes da mão. “Aiiii”. Quase sangrou o dedão e desculpou-se. Pensativa, observava o instrumento de metal reluzente, afiado para cortar e perfurar.

Naquela noite teve sonhos estranhos com livros de ciências e desenhos da anatomia masculina: corpo cavernoso, uretra, glande, corôa... Glande, parte dotada de extrema sensibilidade.

Na manhã seguinte o coletivo estava cheio como sempre.

Elohim Cândido Brasil
Enviado por Elohim Cândido Brasil em 07/08/2019
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