HISTÓRIAS DO PESCADOR GETÚLIO (*)
O homem queria parar de correr atrás de notícias. Fatigado, em um findar de ano, com bagagem leve de roupas e algumas garrafas do vinho preferido, partiu para uma ilha deserta. Varou vésperas e dias seguintes ao Natal na solidão. Nada de celular, computador, burburinhos. Apenas o vinho e muita chuva, sem ao menos ver o mar. Viveu a chegada do Ano Novo embevecido com o rodopiar das alvas roupas do candomblé, quando aprendeu a beber da cachaça dos pescadores.
Então, caminhou por trilhas e trilhas na mata costeira, pé na areia, olho no vai-vem do mar azul-infinito. Conheceu gentes, costumes e inumeráveis histórias. Findadas as férias, desligou-se do trabalho. Sabia que, o que havia acumulado durante anos e anos de correria, apesar das folganças com mulheres mal amadas, noites mal dormidas e de olvidadas bebedeiras, ser-lhe-ia permitido desfrutar, por algum tempo, das preciosidades daquele lugar.
Agora, findou abril. Passaram-se três anos. Ele não sabe se, como homem acostumado com o burburinho da redação do jornal e da vida buliçosa da cidade, ficaria ali por toda uma vida. Da pesca, aprendeu as manhas e o obtém o bastante para o viver. A promessa, feita no primeiro passar de ano ali, passa a cumprir. Haveria de escrever uma dúzia de histórias, uma a cada mês. Crê que chegara a hora de pegar lápis e papel para as primeiras palavras. Olha o mar, o céu, os homens a se desenredarem de tralhas e produtos da pesca e escreve o título “Histórias do pescador Getúlio”.........