"Mocinha"...

Tantas histórias vividas, lembrei da "Mocinha".

Encontrei "Mocinha" na feira livre perto de casa, eu tinha a idade

de cristo, ela estava caída no chão, entre duas barracas de frutas,

parecia drogada, praticamente desmaiada. Ninguém ali conhecia ela,

com muito cuidado, carreguei-a até em casa, arrumei um lugar bem

confortável, ela estava em um sono profundo, e ficou assim até o

dia seguinte. Quando acordou notei que ela não falava, mas aos

poucos foi entendendo onde estava, compreendeu que minhas in-

tenções, eram as melhores possíveis. Estava faminta, e comeu com

gosto, tudo que lhe dava. Desse dia em diante, ela compartilhava

sua amizade com uma grande gratidão, que fiz por ela.

Foram anos de convivência, ela demonstrava uma alegria incrível

quando chegava em casa, com aquele jeito de andar, que era só

dela, tinha que dar atenção, senão ela ficava brava, e tinha um

ciume incrível das pessoas que ficavam perto de mim.

Cuidei da "Mocinha" quando ela sofreu uma queda, e se feriu

gravemente na costela, mas em uma semana ela já estava bem.

Mas o destino interrompeu nossa amizade,talvez nem posso culpar

o destino, e sim uma falta de sensibilidade humana, quanto levei

"Mocinha" para São Paulo, para visitar minha família, chegando

na casa de meus pais, já de noite, depois de oito horas de viagem

de carro. Meu pai não deixou que "Mocinha" ficasse dentro da

casa, e ela nunca dormiu fora da nossa casa. Meu pai exigiu que

ela dormisse na área de serviço, assim ela ficou, o olhar da

"Mocinha" naquela hora para mim parecia uma despedida e foi.

O dia nem clareou, um barulho e um grito! Abri a porta da área

de serviço e estava "Mocinha" no chão desfalecida, um gato sem

coração atacou "Mocinha" derrubando-a da gaiola, o grande susto

que ela levou, fez seu coração arrebentar, ainda peguei "Mocinha"

e nas minhas mãos deu seu ultimo suspiro, e morreu me olhando.

"Mocinha" um periquito fêmea, uma Maritaca de penas todas

esverdeadas, uma amizade de anos sem cobranças...Tem

amizades que não precisam ser mostradas, e quem quiser ver,

que aceitem como somos...Mesmo que seja um pássaro!