AUTOR DEFUNTO (**)
Passado o tempo da faculdade onde se formara com louvores, meio a diversos pretendentes, ela se decidiu pelo colega que lhe parecera mais prático. E viveu quase trinta anos de uma vida morna, com um homem insípido, adornada com as mais finas jóias, circulando em tépidas festas ou solenidades políticas. Até que lhe chegou às mãos uma carta não datada. O autor da missiva revelou-se como um “ghost writer”, o que escrevera para seu marido senador todos os discursos, desde a primeira campanha há anos passados e também todos os bilhetes e cartões que esse lhe mandara junto com as preciosas jóias que lhe oferecia a cada comemoração. No final da carta, sem piedade, ele lhe avisa que é um autor defunto. Que essa havida sido escrita há muito, quando uma doença grave já lhe extinguira todas as esperanças e que seu advogado havia sido orientado a postá-la, quando tivesse passado mais de um ano após a sua morte. Hoje, ela vive noites quentes, a sorver cada palavra da confissão de um amor nunca experimentado.