O outro nome da rosa ( republicando)

Cris’al’Harun cofia as longas barbas, espiando o balé estranhamente uniforme da floresta móvel no fundo da ravina.

Uma jóia ? – pergunta à meia voz. – E porque dar uma jóia a alguém?

Sinto-me obrigado a concordar com a estranheza dele. Nesse planeta essencialmente mineral onde estamos há mais de três décadas terrestres, não tem sentido algum dar este tipo de objeto a alguém. Colhemos esmeraldas no deserto âmbar; rubis translúcidos nas montanhas anãs; diamantes, posso ver uma infinidade deles nas paredes da caverna-casa de Cris. Para todos os efeitos, não existe lógica alguma no meu pedido.

É ela! – digo, tentando faze-lo entender. – Gostaria de encontrar algo que a agradasse! – e quase murmurando:- Está todo esse tempo junto de mim. Quero vê-la feliz!

Falo de Gália, a fêmea que foi deportada por motivos aleatórios e veio parar aqui. Eu a acolhi , em agradecimento me aquece nos tempos frios ( o são na maioria dos dias ) e me faz companhia neste planeta-corporação. Sem ela, ficaria louco , tenho certeza.

Ele levanta os olhos para o alto. O céu está vermelho como sempre fica, depois que os três sóis se põem. Não entendo o motivo dele olha-lo assim. Demoradamente.

Depois caminha devagar para o outro aposento, voltando com uma caixa que deposita no chão.

Apanha algo em meio a tantas coisas. Meus olhos aflitos acompanham-no no vir do objeto dado a mim.

Seguro com mãos trêmulas o pedregulho liso, sem brilho algum.

É uma pedra da Terra! – ele diz. – Sua fêmea gostará, pode ter certeza!

Por segundos infinitos um frêmito esquisito percorre meu corpo.

Mais tarde descobri. Era saudade.

Nickinho
Enviado por Nickinho em 20/09/2007
Reeditado em 22/09/2007
Código do texto: T660995