A promessa
- Não se desespere, meu amor! Deus está conosco. Além disso, eu estarei sempre ao seu lado... Sempre! - Era o acalanto de Amélia para o marido, soropositivo, em momentos difíceis de sua doença. Descrever aqui a entonação que ela usou é impossível. Mas basta-nos saber que ela falou com o coração. Primeiro ela própria deixou que uma lágrima rolasse em seu rosto. Em seguida foi a vez de Rafael que também não pode se conter...
O que Amélia não sabia era que ela também estava infectada. Quando descobriu a tragédia, não se desesperou. Focou todas as suas energias no tratamento do casal. Sua palavra era cumprida. Abandonou o emprego de modelo fotográfica, as vendas de jóias e perfumes... Mas o destino não abrandou sua ira. Amélia se foi quatro meses depois. Um golpe terrível para Rafael.
Mas Rafael não dispunha de tempo para a viuvez. Tinha que cuidar de si, apesar do debilitado estado de saúde. Sua saúde estava muito comprometida e foi viver seus últimos dias com sua mãe.
Não demorou muito e levaram o rapaz para o hospital. Não voltaria mais dali, vivo. Todos sabiam disso. Ele também, embora ninguém tivesse tido a coragem de dizer isso. Ele se despedia, à sua maneira, de tudo e dos poucos que ainda lhe visitavam. As lembranças boas também lhe visitavam e delas também se despedia.
Os momentos da vida infantil no interior de Pernambuco, a adolescência na caatinga cearense, foram muito difíceis. Mas Rafael de uma maneira peculiar extraía as poucas boas lembranças. O Exército, em Fortaleza. O Casamento com Amélia, a mulher da sua vida. Disso também tentava se despedir, mas não conseguia. A famosa música homônima, de Mário Lago e Ataulfo Alves, não fazia jus à maravilhosa pessoa que tinha sido Amélia.
Uma bela manhã Rafael acordou cedo e imaginou-se no seu momento final. Quiz fazer uma retrospectiva das coisas boas, mas só se lembrava de Amélia. "...Além disso, eu estarei sempre ao seu lado...", as belas palavras da mulher ecoaram na sua alma. "Se viva fosse assistiria minha ida... e mais fácil seria para mim..." conjecturou. Na sua cabeceira uma revista nunca folheada antes continuava inerte. Não se sabe como Rafael esticou a mão, como se buscasse uma última leitura... Não chamara a enfermeira, nem ninguém. Sua mãe estava em casa e logo mais estaria com ele. Mas não falaria mais com ela.
O momento era chegado... Abriu a revista numa página qualquer. Sorriu docemente e se foi.
Quando dona Rosa, sua mãe, chegou a enfermeira lhe garantiu: "Ele morreu feliz! Dona Amélia estava com ele...". Quando ela quis saber mais detalhes a enfermeira mostrou-lhe a revista aberta da maneira como encontrou nas mãos de Rafael. Havia ali um anúncio antigo de uma clínica odontológica. Amélia era a modelo da foto. E estava radiante com um lindo sorriso no rosto. Sobreposto à imagem uma frase enigmática: "Você sabe o motivo deste sorriso?". Estava cumprida a promessa...