A IDA DA VIDA
A primeira tela, ela pintara com as tintas da emoção. Raiva. Saudade. Sobras de um abandono seco após deleitáveis dias de um tempo de amor suposto desmedido.
Da primeira, vieram outras _ sôfregas, portentosas, tintadas de sol, de mar, de verde, de pássaros em profusão. Prêmios aconteceram como coelhos na cartola. Fez-se uma artista de poder. Entre tanto e tantos, ele nunca voltou........
Dor maior chegou-lhe com um duplo vazio. Alguém viu o sangue por baixo da porta. O primeiro quase lhe esvaiu a vida e o outro fê-la desaprender como riscar, baralhar cores, soltar pássaros a voar sobre o mar.
Onde hoje vive, é aquela que brinca de boneca, dia e noite. Pelo vão da cabeça de uma boneca de louça, ela enfia e move sua mão e fixa-se no abrir e fechar de olhos que suscita no seu brinquedo de menina. Noite e dia