DE COSTUME
Há tempos li uma história. Contava de uma mulher que, numa noite, o marido viu iluminada. Nessa noite, ela se deitara num horário fora do costume. Usava uma roupa de fina seda e trazia os cabelos negros-longos dispersos no travesseiro. Muito fora do costume. Ao olhar, de modo descostumeiro, para o rosto da mulher com quem dormia há mais de três décadas, o marido notou que ela tinha no rosto uma luz desconhecida. Sentou-se a seu lado e passou a noite na vigia daquela uma imagem revelada depois de tanto tempo de vida em comum. Antes mesmo do amanhecer, o marido percebeu que aquela mulher há muito havia deixado de ser sua. E que ele, por costume, deixara que se apagasse a luz que resplandecia no rosto dela em seus primeiros momentos de vida a dois. Acho que foi assim.