A CASINHA ALARANJADA

Algo de mágico há na casinha alaranjada que se apresenta humilde e alheia numa esquina da capital.

Na sala, sobre almofadas prateadas, a moça aprecia seus peixinhos dourados flutuantes num imenso aquário de cristal, que reveste as quatro paredes do recinto. Do piso ao teto, a estrutura cristalina mantém vivos os peixinhos, que nadam de um lado a outro, embalados por serenidade e graça. No metro entre as paredes e os cristais, centenas deles deleitam-se em águas límpidas, beijando vegetais aquáticos e brincando com pedrinhas brancas.

E a moça só tem os peixinhos dourados como luz e cor de sua existência. Não quer nada nem ninguém. Não tem vaidades nem solidão. O sol tímido que vem de fora aquece e ilumina as águas borbulhantes e energiza aquelas vidas coloridas, que dançam cintilantes diante da moça. Ela rodopia seu corpo com mansidão, procurando recompensá-las pela leveza.

De repente, balas perdidas invadem a sala e despedaçam, impiedosas, o aquário de cristal dos peixinhos dourados. E a moça sucumbe sob os estilhaços de vidro, em meio às criaturinhas luzentes saltitando de agonia.

E a realidade abrupta rompe a redoma de sonhos da casinha alaranjada, que se apresenta triste e indefesa numa esquina da capital.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 14/07/2018
Reeditado em 15/07/2018
Código do texto: T6389766
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