MANHÃ DE DOMINGO

O galo cantou e o velho camponês, exilado na periferia, sorriu ao ouvir a conhecida melodia beliscando sua memória. Outros, urbanos em seus modos, amaldiçoaram o impetuoso bicho no galho da mangueira frondosa.

As ruas começaram a se esquentar com os passos firmes e as bengaladas dos beatos em direção à matriz. Um saco plástico rodopiava graças ao vento roçando sobre o asfalto anêmico. A manhã ocupava seu espaço entre as casas melancólicas frequentadas por seres fechados em si mesmos.

O ônibus deslizava preguiçosamente pela rua até passar por meia dúzia de curiosos rodeando o corpo sem vida. — Ele escreve versos. — reconheceu um deles. Em frente à loja fechada, ao lado do bar ressonando, o corpo era a materialidade do assalto que a morte praticou contra a poesia na madrugada de um domingo.

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 17/05/2018
Reeditado em 17/05/2018
Código do texto: T6339339
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