MANHÃ DE DOMINGO
O galo cantou e o velho camponês, exilado na periferia, sorriu ao ouvir a conhecida melodia beliscando sua memória. Outros, urbanos em seus modos, amaldiçoaram o impetuoso bicho no galho da mangueira frondosa.
As ruas começaram a se esquentar com os passos firmes e as bengaladas dos beatos em direção à matriz. Um saco plástico rodopiava graças ao vento roçando sobre o asfalto anêmico. A manhã ocupava seu espaço entre as casas melancólicas frequentadas por seres fechados em si mesmos.
O ônibus deslizava preguiçosamente pela rua até passar por meia dúzia de curiosos rodeando o corpo sem vida. — Ele escreve versos. — reconheceu um deles. Em frente à loja fechada, ao lado do bar ressonando, o corpo era a materialidade do assalto que a morte praticou contra a poesia na madrugada de um domingo.