Retomada

Foi naquele dia que se lembrou dela. Um dia um tanto feio, varrido por um vento não exatamente agradável. Naquele dia, lembrou-

dela não como costumava fazê-lo, mas de uma forma que compreendia saudade, uma saudade fininha, premente. Não apenas rememorou os momentos em que haviam se sentido próximos, em que a afinidade parecia aflorar por todos os poros, em que os sorrisos de ambos dialogavam, mas sentiu que aquela lembrança o impelia a buscá-la, a vê-la, a, quem sabe, definir-se.

Arrumou-se e, assim posto, saiu caminhando na direção que sabia encontrá-la, a princípio lentamente, depois com passadas mais rápidas. Procurou não se importar com o vento, nem com o enjoado friozinho úmido. Detalhes, apenas.

Sentou-se num banco do calçadão, equilibrando-se entre a paciência e a ansiedade. Mera questão de tempo a passagem dela, o sorriso espontâneo, os olhos vibrantes. Sentou-se, esperançoso e, depois de alguns minutos, ela apareceu. Acompanhada! Viu-o, abanou, um abano que lhe pareceu animado. E, assim como abanou, passou reta por ele e perdeu-se por entre as pessoas que, àquela hora, lotavam o calçadão.