CAMINHO DE VOLTA
Filha com a mãe no leito da morte.
-Mãe eu sei que a senhora está se despedindo!
-Eu sei também que pra cá a senhora não volta mais.
E a mãe já fraquinha redarguiu.
-Filha chore não viu menina, sou igual sua lágrima, que não voltam mais pro seus olhos de mel...
-Você tem total razão fia minha, estou por um fio de azeite doce .
-Mais me escute. E a menina aos prantos soluçando levantou seus olhinhos tristes sem querer aceitar a quase morte de sua linda mãe.
E a mãe já suspirando em falsetes seus últimos fôlegos no fraco atabaque do coração continuou a delonga no leito amortalhado.
-Não sou eu quem tem que me preocupar com a volta minha fia!
Até porque volta mesmo não tem bilhete pra compra.
É você que tem que se preocupar mesmo é com a ida pra onde estou indo. Porque nem eu nem ninguém sabemos onde fica este caminho fia!
-Mas, é a única porta de saída que temos. E a filha compenetrada ouvia atenta o esquadrinhar do plano telúrico da sua mãe moribunda .
-Quando chegamos aqui neste planeta fia, viajamos por um orifício da qual nem sabíamos sequer o rosto que trazíamos de onde, que vai até outro sacrifício que é o ouriço da mãe a que chamam gravidez, que era onde você se alojava sem pisar neste solo que nos une. Pois tinha que dividir entre nós duas dois corações num mesmo espaço e compasso da gravidade. E depois nos dividimos pra somar sonhos e cavernas...
Depois vem a quebra do ovo aonde o sofrimento vem em dobro uma na tal gravidez e a outra no caixão. E tudo começa de novo com o: Era uma vez...
Até ser tempo de pores os pés pra onde estou partindo que é a terra dos estrumes. Onde também haverás de pores teus ovos na prenhez...
-E onde é mamãe é longe??? Perguntou a pirralha mais aflita ainda.
-Embaixo dos seus pés fia.
E assim morria sua mãe dona Florinda.