Diário - expedição Antártica 13/10/1914.
Acabamos de voltar da caminhada pelo imenso bloco de gelo que se desprendeu de sua parte mais densa essa manhã, estamos encalhados nela há mais seis meses. É incrível a sensação de se estar navegando em um bloco de gelo com aproximadamente 30 jardas de extensão, estando a 15 nós de velocidade. Parece que o mundo está se movendo lentemente. Alguns de nossos fiéis cães de trenó nos acompanham, fazendo brincadeiras por um pedaço de carne seca. Temos provisões para mais 20 dias e mal sabem os coitados que na falta de comida, eles serão a comida. Por isso brinco com eles, me apeguei a essas criaturas tão selvagens e ao mesmo tempo servis por sua condição, que não é diferente da nossa. Até pior, pois dependem de nós os homens para comer. Mas isso fazia parte do trato com Schackleton, fomos pagos para superar as adversidades desse mundo hostil. Confesso que estou ficando cada vez mais deprimido com todo esse branco ao meu redor. Faltam 3 meses para o degelo da área onde nosso navio está encalhado, mas temos comida para apenas mais duas semanas e meia. Provavelmente seremos obrigados a caçar focas e leões marinhos para continuarmos vivos. Não que isso seja um problema, mas detesto matar animais tão especiais e fortes em sua natureza fria. Mas se for necessário farei sem pestanejar. Afinal, quero contar o que passei, pessoalmente para os meus descendentes. Isso se um dia eu vier a tê-los. Fico por aqui com esses escritos, vou até a sala principal do convés para ver o que os rapazes estão aprontando para passar o tempo. Quem sabe estão jogando poker, seria uma ótima pedida para um dia de nevasca.