Coisas da vida

Ele caminhava pela cidade como um turista que se tivesse encantado pelas ruas, pelas pessoas, por tudo que pudesse encontrar. Era uma figura conhecida, que desempenhara a sua função com seriedade e com zelo, e agora ocupava-se em trilhar a cidade em todas as direções. Alguns espantavam-se de que um senhor tão idoso pudesse ser tão ágil, mantivesse a cabeça tão arejada, dominasse tão bem a arte da caminhada. Não gostava de viajar e dificilmente adoecia, apenas algum pequeno resfriado que logo superava, um ou dois dias ausente para logo reaparecer. Até que um dia ele não apareceu no café que costumava frequentar, para bater papo com os amigos. Esperaram-no no dia seguinte, mas ele estava desaparecido. Até que surgiu, disfarçando um sorriso, lá pelo quarto dia. Os amigos quiseram saber o que tinha acontecido. Ele balançou a cabeça, nada de maior, desconversou. E não se demorou muito. Uns dias depois, encontraram-no de braços dados com uma senhora: descobriram que o amigo se apaixonara, e a dama morava na praia. Agora, já não mais caminhava sozinho, e os olhos tinham adquirido um novo brilho.