EM PONTO DE BALA

Saiu em ponto de bala, num estrondo, pela noite adentro fazendo escarcéu. Finalmente estava livre para cumprir com o seu destino. Queria gente. Queria sangue. Pessoas assustadas corriam na chuva em busca de abrigo, mas não se deteve. Idiotas, um dia chegaria a vez delas. Seguiu em frente, desejando que alguém cruzasse o seu caminho, torcendo para que algum desavisado lhe acolhesse inocentemente e oferecesse o corpo em sacrifício. Quase podia sentir o prazer de penetrar-lhe a carne quente e macia, ansiava por esse momento único e derradeiro, antes de perder a sua potência e cair em alguma vala suja, qual um objeto inútil e esquecido. O desejo impregnava a sua cabeça, não importava o sexo, a cor, a idade, queria apenas um corpo naquela noite fria.

Avistou um provável alvo caminhando distraído. Era um homem, jovem ainda, usando um aparelho de surdez. O pobre coitado não teve a mínima chance de defesa.

Na manhã seguinte, os jornais estampavam em suas manchetes que mais um cidadão tombara vítima de uma bala perdida na cidade Maravilhosa.