O ESPELHO DO BANHEIRO

Tinha dúvida quanto a denunciar ou não o colega de trabalho – por vezes chamado de amigo – que descobrira roubando da empresa. Enquanto se barbeava, fitou sua imagem pelo espelho do banheiro e se entregou a pensamentos revoltados: "Trabalho naquela empresa há anos, eles não me valorizam como eu mereço, meu salário é ridículo! Aí, contratam um cara pra ganhar mais do que eu. E esse cara ainda rouba! Tenho três meninos pequenos pra sustentar, minha esposa não trabalha! Tem escola, plano de saúde, tudo nas minhas costas! Eu sim, preciso de um reforço no salário! Eu sim, teria razão pra fazer isso! Eu sim, possuo esse direito! Mas não! Sou homem de caráter, sou incapaz de me apossar do que não seja meu. E assim, vou só ficando pra trás! Afinal, não tenho culpa de ser honesto!"

E o espelho, refletindo sua cara já livre da máscara de pelos, refutou:

– Você não é honesto; você é covarde e invejoso.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 22/11/2016
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