ALADOS

Que alívio chegar em casa e libertar suas asas azuis do cárcere de tecido! Ao menor sinal de emoção, Ian incitava-se a voar. E naquela noite, as emoções o levaram ao delírio; conhecer Teo foi mágico! Não fosse as asas estarem presas no capote , não conseguiria manter-se no chão.

A relação se intensificava e era cada vez mais difícil escondê-las. Não havia alternativa, contaria tudo a Teo. Marcaram encontro numa pousada, ao pé da montanha.

– Não podemos continuar, Teo; nasci com um par de asas que me ascendem sempre que me emociono. Para mantê-las inertes, tenho de amarrá-las sob este maldito capote.

– Ian, veja – livrando-se do largo moletom, apresentou a seu amado um par de asas brancas – também nasci alado, também sou entregue às alturas por minhas emoções. Como você, eu era condenado a voos solitários.

De asas expostas, beijaram-se. Através da janela aberta, ganharam os ares, por sobre a montanha. As asas brancas de Teo, vistas aqui do chão, pareciam nuvens moventes, enquanto que as azuis de Ian confundiam-se com o próprio céu. E assim, como nuvem a penetrar no céu, como o céu a se apossar da nuvem, viveram intensamente suas mais nobres emoções.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 11/11/2016
Reeditado em 12/11/2016
Código do texto: T5820064
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