Que sede!...
Ela passeava pelo calçadão despreocupada com os perigos da noite carioca. Deixou cair sem perceber, um objeto seu. Um rapaz negro, descalço, de boné e sem camisa apressou o passo, correu em sua direção.
Desconfiada e evitando olhar para trás, ela também apressou o passo, correu, correu mais, subiu as escadas daquele velho prédio de três andares o mais rápido que podia, sentindo a respiração ofegante, entrou no apartamento 37, trancando a porta depois de si...
Daqui à pouco alguém bate à porta, a moça abre-a e constata, é ele, que diz: "_ Você deixou cair o seu celular, moça..."
Agradecida, deixa-o entrar, beija-o no rosto, desceu um pouco, acariciando-o. Ele, paralisado. Ela pensando, com os lábios encostados em seu pescoço: "Que sede!..."
Depois dessa noite, ninguém nunca mais viu aquele jovem no calçadão.
NA: mistério sutil, leve terror e sensualidade, crítica ao racismo, ao preconceito e discriminação social.