CAMILA

Quase chorando, Daniel desligou o celular. Sentado diante do computador, jogou o pequeno telefone na cama. Em seguida — enquanto as primeiras lágrimas percorriam seu rosto adolescente —, preparou-se para escrever o poema que entregaria a Camila antes que ela fosse embora.

Foi por isso que ela telefonou. Para dizer que o pai precisava transferir-se para Campinas, onde comandaria a Redação de um jornal cujo estilo era muito parecido com o do “Jornal Pequeno”.

“Campinas”, pensou Daniel. “A uma realidade de distância daqui de São Luís”. Então, a revolta tomou conta de seu espírito. “Por que o meu grande amor deve partir?”, ele chegou a digitar no espaço branco do Word. Mas acabou selecionando e depois deletando a pergunta. Amava demais sua querida Camila e não daria a ela versos cheios de ódio e autopiedade.

Então, ele recordou a parte final de um poema de Pablo Neruda: “Amanhã, dar-lhes-emos apenas uma folha da árvore do nosso amor, uma folha que há-de cair sobre a terra como se a tivessem produzido os nossos lábios, como um beijo caído das nossas alturas invencíveis para mostrar o fogo e a ternura de um amor verdadeiro”.

Daniel começou a escrever seus próprios versos, os dedos valsando no teclado, pensando em sua amada Camila como um dos poemas de Neruda: uma repentina onda de alegria, que entrou em sua vida depois de conquistar seu coração.

DANIEL MENDES
Enviado por DANIEL MENDES em 29/09/2005
Código do texto: T54964