OS FESTIVAIS DE INVERNO. Série: Figuras de Conquista...
OS FESTIVAIS DE INVERNO - FIGURAS de CONQUISTA - BAHIA
De vez em quando recebo cartas de ex participantes do Festival de Inverno da Bahia. Esta carta, aliada às noticias que correm por aí de que alguns produtores de cultura aproveitam as oportunidades poucas que se lhes apresentam para falar mal do FIB ou do seu idealizador, animaram-me a contar algumas coisas que ocorreram desde o I FIB cm 1984.
Para a realização do I FIB, mandamos confeccionar os cartazes e os regulamentos no Rio de janeiro, onde iniciamos o trabalho de marketing valendo-nos das amizades de Moacir de Andrade (então gerente comercial da TV Globo-Rio). Antonio Jorge Aude Fernandes e da nossa experiência no setor musical.
Conseguimos chamadas gratuitas, a nível nacional no programa TV Mulher, estrelado por Marília Gabriela, na Rede Globo. Conseguimos noticiar em todos os jornais do Rio de Janeiro: Globo, Jornal do Brasil, O Dia e nos jornais de São Paulo O Estadão, e a Folha, além das emissoras de TV cariocas, paulistas e baianas e emissoras de rádio de quase todos os estados. No Rio de Janeiro fomos pessoalmente à Rádio Nacional, Rádio Globo e recebemos a ajuda importante do “Amigo da Madrugada” o grande Adelzon Alves, entre tantos outros.
No plano técnico com o auxílio de Dércio Marques, contratamos o maestro Zé Gomes e urna pléiade de músicos de grande nível que hospedamos por nossa conta em hotéis da cidade durante 35 dias. Também contratamos para shows os artistas Taiguara, Paulo Diniz, Dominguinhos, Saulo Laranjeira, Doroty Marques. Dércio Marques., etc.
Realizamos o I FIB em dois finais de semana corridos. O prejuízo financeiro foi muito grande pois todos os shows deram prejuízo; uns menos, outros mais. Encerrado o evento, uma apoteose, declarado vencedor o grande compositor Jatobá - autor de Matança e outros grandes títulos da MPB, o primeiro protesto de segmentos políticos locais com uma retirada histórica das arquibancadas do ginásio de esportes, a uma e meia da madrugada nos deu uma pequena mostra da aridez do terreno em que estávamos semeando.
O prejuízo chegou aos 21 milhões de cruzeiros, obrigando-nos a vender às pressas, um apartamento que tínhamos na rua Araújo Pinho, no Canela, em Salvador. Vendemos o apartamento por 40 milhões, recebendo 25 milhões na permuta que fizemos por outro apartamento no conjunto dos Bancários. O nosso prejuízo total do I FIB foi de 41 mil dólares americanos.
Na realidade, a preço de hoje, perdemos cerca de 150 mil reais, uma pequena fortuna, representando a perda de anos de trabalho e economia.
Apesar do prejuízo de 1984 realizamos o II FIB em 1985, ainda no ginásio de esportes.
Não poderia esquecer de registrar o apoio que recebemos do prefeito José Pedral, do vice-refeito Hélio Ribeiro e de alguns empresários locais para diminuir as nossas preocupações financeiras. Nos demais FIBs contamos com a ajuda da prefeitura de Conquista - através de Hélio Ribeiro, como contamos a nível estadual com a ajuda do Governo do Estado, do deputado Leõnidas Cardoso. Os empresários Marivaldo Rodrigues, Antonio Roberto Cairo, Edson Mota, Roberto Calazans, Pedro Morais Filho, Chico Silveira, Jesus Gomes dos Santos. Haroldo Gusmào, Alicio Gonçalves, Cristovam Khoury, Iran Gusmão, etc.
No plano técnico, contamos com importante ajuda de homens e mulheres ligados às artes pontificando a participação do poeta Carlos Nápoli, das professoras de música Norma Guimarães e Otadísia Sampaio, da imprensa que deu total cobertura aos FIBs.
Realizamos dez edições do FIB, já com a experiência dos anteriores, daí em diante os prejuízos passaram à pequena monta, não chegando a comprometer flsica ou financeiramente o idealizador.
TAIGUARA, O GRANDE VILÃO
Conheci o Taiguara no Rio de janeiro. Na oportunidade, havia tentado contratar Xangai para abrir o I FIB, mas por questão de preço não conseguimos realizar o nosso intento. Xangai pediu 2 milhões e ainda exigiu 4 passagens ida e volta de avião Rio-Ilhéus-Rio. Paulo Diniz veio cantar por 1,2 milhões de cruzeiros mais passagem de leito Rio-Conquista-Rio e hospedagem.
Dominguinhos veio por 1 milhão mais hospedagem.
Voltando a Taiguara, na impossibilidade de abrir o I FIB com Xangai, fiz um contato com Taiguara, considerado o símbolo dos antigos festivais, desde os tempos da Record.
Contrato firmado, no dia aprazado, Taiguara chegou, por volta das 19 horas, com dois músicos. Logo no terminal Rodoviário tivemos o primeiro atrito. Ele exigia o pagamento de metade do contrato em dinheiro, ali mesmo. Ameaçou voltar para o Rio, mas depois resolveu ir para o hotel.
Uma platéia de apenas 200 pessoas quis enfrentar o frio de 8 graus para ouvir aquele que foi o maior ídolo da nossa MPB. Lá para as 22 horas Taiguara ameaçava não subir ao palco para cantar.
Mandei chamar o vice-prefeito Hélio Ribeiro que estava na platéia e coloquei-o a par da situação. Caso Taiguara não subisse ao palco precisaria do apoio policial para manter a ordem. E o cantor fora avisado de que teria de comparecer à delegacia de policia, caso não cumprisse com o seu dever. Nosso receio era a platéia depredar o ginásio. Finalmente Hélio Ribeiro convenceu Taiguara a cantar.
Confesso que esta foi a minha primeira grande decepção. Não tive condições de assistir ao show. Permaneci nos bastidores do ginásio, por trás do palco. Não seria necessário expressar aqui como me sentia depois de tanta palhaçada de Taiguara. Não havia estado de espírito que resistisse.
Na verdade, o impasse se deu porque êle cobrira o cenário do Show com uma bandeira nacional rota, colada na parede. Logo que cheguei ao ginásio, avisado, tratei de mandar retirar a bandeira e aí iniciou-se o conflito. Durante o show Taiguara ensaiou um discurso político mas o público não gostou e vaiou, aí êle se mancou e dedilhou o piano. Havia começado ali, o maior evento cultural jamais realizado em Vitória da Conquista...