PEQUENOS NEGÓCIOS DA CHINA. Série: Figuras da Bahia
FALEIRO E OS NEGÓCIOS DA CHINA - SÉRIE FIGURAS DA BAHIA
Clovis Faleiro era uma figura engraçadíssima.
Magro, altura mediana, claro, de bigode, era um verdadeiro cigano na arte de fazer negócios. Tinha ares de fidalgo, era muito educado e tratava o seu interlocutor, de “maior”.
Gostava de comprar e vender carros, imóveis e mais o que aparecesse. Inicialmente, usava a estratégia do desinteresse, para depois, propor um negócio qualquer. Não era difícil fazer negócios com êle.
Fiscal do DERBA, vez por outra dava plantão na Estação Rodoviária de Salvador e gostava de fazer ponto na famosíssima “Ilha dos Ratos”, localizada em frente à Associação Comercial da Bahia, na Cidade Baixa.
Uma certa feita, insistiu para comprar meu Crysler de luxo, só que tinha um detalhe: ele não dirigia. Tive que me socorrer do amigo Antonio Napoli para levar o carro para a residência do comprador, na Cidade Alta. Combinamos que Napoli voltaria de táxi para a fábrica de móveis que tínhamos na Rua Barão de Cotegipe 222, Calçada. Isso lá por volta das dez horas da manhã. Quase meio dia, chega Antonio com a notícia: ao subir a Ladeira do Contorno, explodiu o motor do carro...
Na parte da tarde, aparece Faleiro e vai logo dizendo: - Olha aqui, maior, tive que comprar um motor para o carro, pois o serviço de retífica ficaria mais caro e você terá que pagar esse prejuízo. Eu lembrei ao grande negociante que havia comprado em suas mãos, há menos de um mês, um veículo Saab cujo motor caiu em plena rua, causando-me um transtorno terrível, e nem por isso fui procura-lo para cobrar os serviços. – Carro velho é assim, meu amigo. Já viu alguém dar garantia de coisa velha?
Na verdade, não dávamos sorte em nossos negócios. Aquele ar importante e a sua maneira de chamar a todos de maior, além das suas ofertas e procuras, são fatos que ficaram em minha memória e não poderia deixar de registrá-los...